Uma história sobre instintos e abandono
“A cachorra” é um romance da escritora colombiana Pilar Quintana que, apesar de sua brevidade, carrega uma profundidade emocional avassaladora. Publicado originalmente em 2017 e traduzido para o português pela editora Intrínseca, o livro nos transporta para a costa do Pacífico colombiano, um cenário exuberante e ao mesmo tempo opressivo, onde acompanhamos a trajetória de Damaris, uma mulher que luta contra a solidão e o desejo frustrado de ser mãe.

Nesta obra poderosa e inquietante, Quintana entrelaça habilmente os destinos de uma mulher e uma cadela, criando uma metáfora contundente sobre maternidade, instinto e as complexas relações entre seres humanos e animais. A natureza selvagem da floresta tropical colombiana se torna quase um personagem à parte, refletindo os estados emocionais da protagonista e amplificando a sensação de isolamento que permeia toda a narrativa.
Os laços que nos formam
Damaris vive em uma área remota da costa colombiana, um local de beleza natural impressionante, mas também de condições duras e isolamento. Casada com Rogelio, um homem mais velho que trabalha como zelador em casas de veraneio, ela carrega consigo o peso de não conseguir engravidar, apesar de várias tentativas ao longo dos anos. Sua infância marcada pelo abandono da mãe e pela criação rigorosa sob os cuidados do pai adotivo moldou sua personalidade reservada e sua dificuldade em expressar emoções.
O relacionamento com o marido, embora estável, é caracterizado por uma rotina mecânica e por uma comunicação limitada. As interações sociais de Damaris se resumem a alguns vizinhos e à esporádica presença de turistas que visitam a região. Essa existência monótona e solitária cria o pano de fundo perfeito para a transformação que está prestes a acontecer em sua vida.
Quando Damaris encontra uma pequena cachorra preta abandonada, decide adotá-la e chamá-la de Chirli, nome que teria dado à filha que nunca teve. O ato de resgatar o animal parece, inicialmente, uma chance de preencher o vazio maternal que a atormenta. Entretanto, a relação entre Damaris e a cachorra não segue o curso esperado, revelando camadas complexas de afeto, frustração e, eventualmente, raiva.
O espelho da natureza selvagem
À medida que a cachorra cresce, sua natureza selvagem começa a se manifestar. Ela se torna indisciplinada, destrói objetos da casa e frequentemente foge para a floresta, retornando dias depois suja e machucada. Esses comportamentos despertam em Damaris sentimentos conflitantes – uma mistura de amor maternal e profunda decepção. A protagonista projeta na cachorra todas as suas expectativas não realizadas sobre maternidade, esperando uma gratidão e um afeto que o animal, seguindo seus instintos naturais, não consegue demonstrar da forma que ela deseja.
Quintana constrói magistralmente o paralelo entre o ambiente selvagem da floresta colombiana e os instintos primitivos que habitam tanto os animais quanto os seres humanos. A natureza indomável que cerca a casa de Damaris reflete os impulsos que ela tenta, sem sucesso, controlar em si mesma e na cachorra. A floresta, com sua beleza imponente e seus perigos ocultos, funciona como uma metáfora para o subconsciente da protagonista – um território inexplorado e potencialmente perigoso.
As descrições vívidas do ambiente natural criam uma atmosfera opressiva que intensifica a tensão crescente na narrativa. Os sons da floresta, o calor úmido, as chuvas torrenciais e o mar bravio compõem um cenário que amplifica o isolamento físico e emocional vivido por Damaris. A natureza não é apenas um pano de fundo, mas uma força que influencia diretamente o comportamento dos personagens.
As feridas da rejeição
O passado de Damaris, marcado pelo abandono materno e por uma infância difícil, ressurge com força à medida que sua relação com a cachorra se deteriora. A protagonista carrega cicatrizes emocionais profundas que afetam sua capacidade de estabelecer vínculos saudáveis. A rejeição que sente quando a cachorra foge repetidamente desperta nela memórias dolorosas de sua própria história de abandono.
Pilar Quintana explora com maestria como os traumas infantis moldam a vida adulta de sua personagem. Através de flashbacks estrategicamente posicionados, conhecemos a infância de Damaris e entendemos como suas experiências formativas influenciam suas ações no presente. O ciclo de abandono e rejeição se perpetua, criando um padrão destrutivo que a protagonista parece incapaz de romper.
A relação entre Damaris e a cachorra Chirli se transforma em um campo minado emocional, onde o amor e a raiva coexistem em um equilíbrio precário. Quando a cachorra engravida, Damaris vê nisso uma espécie de traição – como se Chirli tivesse conseguido realizar algo que ela mesma não pôde. Esse sentimento de inveja, misturado ao amor que ainda sente pelo animal, cria um conflito interno devastador.
O clímax da narrativa ocorre quando Damaris toma uma decisão drástica que mudará para sempre sua relação com a cachorra. Esse momento crucial, narrado com uma frieza calculada que contrasta com a intensidade emocional da situação, revela até que ponto o desespero e a frustração podem levar uma pessoa. A escrita contida de Quintana torna a cena ainda mais impactante, deixando muito das emoções nas entrelinhas.
Avaliações da rede
“Um livro pequeno mas devastador. A forma como Quintana retrata a maternidade frustrada é de uma honestidade brutal.” – Mariana Silva
“A prosa econômica e precisa de Pilar Quintana cria uma tensão crescente que não alivia até a última página. Leitura imprescindível.” – João Carlos Mendes
“Nunca pensei que um livro tão curto pudesse me deixar tão impactado. A história de Damaris e Chirli ficará comigo por muito tempo.” – Luísa Campos
“A natureza selvagem como reflexo da condição humana. Quintana nos faz encarar o lado mais obscuro da maternidade com coragem.” – Roberto Alves
“Uma obra que nos confronta com verdades incômodas sobre o que realmente significa cuidar e amar. Demolidor e necessário.” – Cristina Torres
Se você chegou até aqui…
É porque deseja muito ler este livro pois algo na história de Damaris e sua cachorra Chirli tocou profundamente em você. A narrativa intensa e crua sobre maternidade, natureza selvagem e os impulsos mais primitivos do ser humano certamente expandirá sua perspectiva sobre relacionamentos e o que significa realmente amar outro ser.
Este romance aclamado pela crítica internacional aparece frequentemente nas listas de leitura obrigatória de cursos de literatura contemporânea latino-americana e estudos de gênero. Professores de literatura comparada valorizam esta obra pela forma como aborda temas universais através de um contexto cultural específico, além da prosa econômica e impactante de Quintana.
A obra transcende a simples narrativa para se tornar um espelho onde todos podemos enxergar algo de nós mesmos, de nossos medos e desejos mais ocultos. O impacto emocional deste livro permanecerá com você muito depois da última página, tornando-o uma adição essencial à sua biblioteca pessoal de obras que verdadeiramente transformam nossa maneira de ver o mundo.
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