Descobrindo uma história atemporal
“Bisa Bia, Bisa Bel” é uma delicada obra da renomada escritora brasileira Ana Maria Machado que nos transporta por uma jornada através do tempo e das gerações. Publicado originalmente em 1982, este livro conquistou o importante Prêmio Jabuti e permanece, até hoje, como uma leitura essencial tanto para crianças quanto para adultos.
A narrativa nos apresenta Isabel, uma menina moderna que descobre o retrato de sua bisavó Bia dentro de uma caixinha de madeira. A partir desse encontro mágico, Isabel passa a “ouvir” a voz de Bisa Bia dentro de si, estabelecendo um diálogo entre diferentes épocas e visões de mundo. Além disso, de forma surpreendente, Isabel também consegue se comunicar com sua futura bisneta, Bisa Bel, criando assim uma ponte entre passado, presente e futuro.
O encontro de gerações e o despertar da identidade
A história começa quando Isabel encontra uma antiga foto oval de sua bisavó Beatriz, apelidada de Bisa Bia. Encantada com a descoberta, a menina decide levar o retrato para a escola. Contudo, em um descuido, a fotografia acaba se perdendo. A partir desse momento, algo extraordinário acontece: Bisa Bia “se instala” dentro de Isabel e começa a conversar com ela, compartilhando memórias, conselhos e visões de mundo típicas de uma senhora nascida no século XIX.
Esta relação inusitada provoca em Isabel diversos questionamentos, especialmente quando os conselhos tradicionais e conservadores de Bisa Bia contrastam com seu modo de vida contemporâneo. “Menina não assobia”, “Isso não é comportamento de mocinha” são algumas das frases que Isabel escuta de sua bisavó, gerando conflitos internos e reflexões sobre o papel da mulher na sociedade.
Enquanto Isabel lida com essas contradições, outra voz surge em sua mente: a de sua futura bisneta, Neta Beta (posteriormente chamada de Bisa Bel). Com ideias progressistas e libertárias, Bisa Bel representa o futuro e traz perspectivas que desafiam tanto Isabel quanto Bisa Bia.
Três vozes, uma identidade
O coração da narrativa está no diálogo entre essas três vozes femininas que habitam Isabel. Cada uma representa não apenas uma geração, mas também diferentes valores, expectativas sociais e possibilidades para as mulheres. Ana Maria Machado constrói, com sensibilidade, um mosaico de experiências femininas que atravessam o tempo.
À medida que Isabel navega entre os conselhos de Bisa Bia e as provocações de Bisa Bel, ela começa a formar sua própria identidade. Compreende que carrega em si um pouco de cada geração que a precedeu e também das que virão depois dela. Esta descoberta é fundamental para seu crescimento pessoal e para seu entendimento sobre seu lugar no mundo.
O livro aborda, com linguagem acessível e cativante, temas complexos como tradição versus modernidade, expectativas de gênero e a construção da identidade. Através de situações cotidianas, como um simples piquenique ou uma brincadeira no parque, Ana Maria Machado nos convida a refletir sobre como as mudanças sociais e culturais moldam nossas experiências e possibilidades.
Se você chegou até aqui…
É porque deseja muito ler este livro pois ele representa uma oportunidade única de reflexão sobre o tempo, identidade e relações entre gerações. Frequentemente recomendado por professores de literatura e língua portuguesa, “Bisa Bia, Bisa Bel” não é apenas uma leitura agradável, mas também uma ferramenta valiosa para discutir transformações sociais, particularmente relacionadas ao papel da mulher na sociedade.
Este livro certamente merece um lugar especial em sua biblioteca pessoal. Além de sua narrativa envolvente, ele oferece múltiplas camadas de interpretação que permitem novas descobertas a cada releitura. Para jovens leitores, representa uma porta de entrada para discussões importantes sobre autonomia e tradição.
Por fim, ter “Bisa Bia, Bisa Bel” em sua coleção é guardar um pedaço importante da literatura infantojuvenil brasileira. A prosa delicada e profunda de Ana Maria Machado transcende categorias etárias e continua relevante mesmo décadas após sua publicação, provando que boas histórias são verdadeiramente atemporais.
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